domingo, junho 7

Segundos Eternos - Parte 7

Era uma manhã de domingo e fazia sol.

Ela se levantou. Feliz.
Era como quando eles se encontravam no parque, mas agora ela que ia vê-lo.

Desde que ele foi transferido, ela levava o café da manhã nos fins de semana e eles ficavam sentados no jardim, conversando.
Naquele dia ela notou algo diferente, ele estava ansioso. Ela sabia porque suas mãos estavam inquietas ao lado do corpo. Era assim que ele sempre ficava.

Então ele finalmente falou, queria que ela soubesse de algo.
Mas ela não queria falar sobre aquelas coisas, ela queria esquecer.
Ele insistiu e revelou aquilo que ela já sabia.

O sol passava por entre os galhos das árvores e formava desenhos estranhos no chão. Ela se perdeu em pensamentos, lembrando do acidente, do diagnóstico, dos médicos e de todas as salas de exames e de toda a força que foi necessária para que ela o perdoasse.

E ela o perdoou.
E quando ela se virou, sorrindo pra ele, e pediu que ele esquecesse do passado, seus olhos estavam tão brilhantes, tão claros, que ela pensou que se lembraria deles pra sempre.


Quando acabou o horário de visitas, eles se despediram e ela foi embora.

Dias assim, ela pensava enquanto dirigia de volta pra casa, eram como pequenos pontos na existência. Eram dias únicos, dias que as pessoas acham que nunca vão acontecer. E contra todas as coisas, eles acontecem.

A estrada estava calma e em cinco minutos ela estaria entrando na cidade. Seus olhos se fecharam por um segundo e ela se sentiu tão cansada, seus braços estavam tão pesados.

De repente, ao começar a fazer a última curva, ela sabia. Ela tinha que parar o carro, tinha que encostar e parar e esperar que passasse.

Mas ela estava tão cansada. Tão cansada que seria bom dormir por alguns instantes e esperar que aquela tonteira passasse.

Ela não sabia mais onde estava, seu corpo ficou pesado e então tudo era escuridão.



Ele acordou e imediatamente se lembrou. Ela estava no hospital, em coma.
Ele quis se levantar quando uma enfermeira colou uma mão em seu braço e disse que ele se acalmasse.

A diretora da clínica entrou no quarto e falou que o acompanharia ao hospital, porque ele ainda não podia ficar sozinho.

Ele agradeceu e elas o ajudaram a se arrumar.

Chegaram ao hospital à noite, e um médico veio recebê-los.

- O estado dela é muito, muito delicado. Pelo que sabemos ela estava fazendo uma curva, quando desmaiou. O carro rodou na pista e foi de encontro a um caminhão que vinha no sentido oposto. Ela foi retirada das ferragens ainda com sinais vitais e já passou por uma cirurgia. Estamos esperando que ela acorde ou que os aparelhos indiquem alguma alteração, mas até agora não temos melhoras.

O médico ainda respondeu a algumas perguntas da diretora, mas ele não quis escutar.

Aquilo não estava acontecendo. Ele tinha falado com ela, estado com ela a menos de um dia e ela estava bem. Aquelas crises não apareciam mais. Não deviam aparecer nunca mais. O que era aquilo agora?

Ele queria vê-la. Tinha que vê-la. Ela estava viva, estava bem.

Ele começou a andar pelo corredor na direção do quarto dela. Ia vê-la de qualquer maneira. Os médicos não o impediram, foram com ele até o quarto.

Ela estava lá, frágil, machucada, respirava com a ajuda de máquinas.
Ele segurou sua mão devagar. Queria dizer algumas coisas mas percebeu que todas as coisas já haviam sido ditas. A única coisa que ele dizia agora era que ela ficasse bem, que ela acordasse.

Ficaram assim um longo tempo. Os médicos saíram do quarto, restando somente a diretora da clínica. De repente um bipe estranho das máquinas fez com que ele se levantasse de um salto. Algo estava errado. O bipe estava cada vez mais rápido e então parou, tão de repente quanto tinha começado. O coração dela não estava batendo.

O quarto foi logo inundado de enfermeiras. Ele queria ficar, queria ver o que fariam com ela, mas alguém gritou para que o levassem dali, e ele foi arrastado até a porta. A mulher o segurava com força quando fecharam a porta, e então ele não ouvia mais nada.