Não, ela não queria mais sofrer e decidiu esquecer o passado.
Agora ela estava bem. Não tinha mais pesadelos. Não ficava perdida em recordações confusas.
Conseguia se sentir normal no meio das pessoas.
Não que ela quisesse ser o exemplo da normalidade, mas aquele sentimento era necessário para que ela tivesse sua paz de espírito.
O mundo andava bem e aquele tinha sido um dia como todos os outros.
Ela voltava pra casa devagar e sentia uma certa satisfação, aquele sentimento que já a acompanhava havia semanas.
Mas não era satisfação por ter recomeçado. Ela não conseguia perceber, no frenesi de fugir da dor, que só colocava as lembranças e os sentimentos em um lugar que ela pretendia esconder de si mesma e esquecer.
E ela estava longe de esquecer. Estava tão longe disso que não tinha mais pesadelos, sim, mas não tinha pesadelos por não conseguir mais dormir.
E todos os dias depois de viver anonimamente, ela voltava pra casa devagar, porque lá ela ficaria sozinha com seus pensamentos e fantasmas.
E naquele dia não seria diferente.
Mas ela tinha aprendido a ignorar tudo que não fizesse parte da sua nova vida. E desse modo conseguia adiar os momentos de tristeza e depressão usuais.
Ela resolveu terminar um dos trabalhos naquela noite. Sabia que era a melhor e sabia que se fizesse tudo certo teria oportunidade de sair daquela cidade.
Era um momento perfeito.
Ela sairia dali e tudo então ficaria ainda melhor.
A noite já ia alta na casa escura e ela havia adormecido sobre os papéis.
Sonhos confusos se alternavam em sua mente quando ela ouviu muito ao longe o som do telefone. Pensou que aquilo também fizesse parte do sono, mas de repente estava completamente desperta. E o telefone ainda tocava.
Ela atendeu e a única coisa que ouviu foi uma música ao longe e quando já ia desligando, ouviu seu nome do outro lado.
Ela disse alô novamente e a voz que escutou trouxe de volta todas as lembranças que ela queria esquecer.
Involuntariamente ela disse o nome dele.
Mas alguma coisa estava errada. Ele só chamava seu nome como se não percebesse que ela estava respondendo.
E ela sentiu de novo aquele sentimento que a assaltava quando eles ainda estava juntos e fazia com que ela soubesse que ele não estava bem.
Ele não estava bem e ela o chamou com urgência.
Tudo o que ouviu, porém, foi um barulho surdo do outro lado. E a música que continuava a tocar.
sábado, maio 9
Segundos Eternos - Parte 3
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Segundos Eternos - Parte 3
2009-05-09T21:04:00-03:00
Malu
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