segunda-feira, junho 22

Segundos Eternos - Parte 8

- Isso já faz tanto tempo, querida.
- Mas conta, quero ouvir de novo.
- Está bem. E então, depois de todo aquele tempo...
- Não, não... Você já pulou a melhor parte!
- Ah... Você quer do início?
- Sim. Do início.



Fazia frio no hospital.
Havia horas, nenhum médico dava informações e a cirurgia já contava 10 horas.
Ele estava lá, sozinho, na sala de espera. Estava lá, porque ela ainda estava ali, presa, e daquela vez ele não iria abandoná-la.
Ele dormiu, e seus sonhos eram confusos e tristes e sombrios.

Um dos médicos apareceu logo pela manhã e disse que ela havia sobrevivido à cirurgia. Ele podia vê-la? Sim, mas apenas dali a algumas horas. Era insuportável a espera, ele queria naquele minuto, naquele segundo. Mas o médico continuou falando que o estado dela era grave, que eles devia esperar e ver se ela iria acordar.

Mas ele sabia que ela iria acordar. Agora, não agora, ela não iria morrer porque ele não deixaria.

As enfermeiras fizeram com que ele se acalmasse e o levaram ao quarto.

Ela estava lá, ligada a centenas de aparelhos. E não respirava sozinha.

E então, durante dias, ele ficou sentado ao lado dela e por mais que tentassem tirá-lo dali, ele não se afastava.

Era o momento que ela mais precisava dele. E ele falava, e contava coisas que eles fizeram juntos, e à noite, sussurrava para que ela sonhasse, dizia as coisas que não havia dito naquele domingo, as coisas que o mantinham ali contra todas as esperanças dos médicos.

Era uma terça-feira e faziam já vinte dias que ela não apresentava nenhuma mudança. Ele estava segurando sua mão, pedindo que ela acordasse porque ele precisava ouvir sua voz novamente.

E ele segurava tão forte e pedia com tanta intensidade em meio às lágrimas que a enfermeira de plantão, olhando aquilo, não achava que poderia aguentar ver o sofrimento dele. E quando ela virava as costas pra deixar o quarto, um dos aparelhos emitiu um som diferente, e depois outro, e outro.
A enfermeira se virou e apertou o botão de emergência, indo para o lado da cama onde ele estava e pedindo que ele se afastasse.

Dessa vez vieram várias enfermeiras e médicos novamente, mas ele ficou no quarto. Deixaram que ele ficasse porque daquela vez não era um ataque cardíaco.
Rapidamente, o quarto ficou vazio novamente, restando somente o médico e a enfermeira.

- Ela está respirando sozinha, mas isso pode não ser estável. Ela não saiu do coma, você entende? Ela pode nunca sair, e ficar assim o resto da vida ou então você pode autorizar...

Mas ele não estava ouvindo mais. Ela estava respirando. Ela iria acordar. E ele a manteria viva até que isso acontecesse.



- E depois?
- Já está tarde e você precisa descansar. Amanhã eu conto o final.
- Mas...
- Mas nada. Amanhã eu conto. Vou buscar o seu remédio.

Ele saiu do quarto. Já fazia tanto tempo, e ela continuava a mesma. Só que agora ela realmente estava morrendo.

Mas dessa vez ele não tinha medo. A vida, afinal, fora justa. E logo eles estariam juntos novamente.

Ele pegou o remédio que mantinha as dores afastadas. Naqueles dias, a dor dela era insuportável e a única coisa a se fazer era esperar pelo fim.

- Aqui, querida. As dores já vão passar.
- Não dói mais, meu bem. Você vai me contar o final agora?
- Precisa ser agora?

Ela pegou o rosto dele entre as mãos enrugadas. E ao olhar nos olhos dela ele soube.

Ela estava morrendo.

- Eu não quero que você vá.
- Me conta o final, eu não me lembro mais.
- Os médicos queriam desligar seus aparelhos, mas eu não deixei. Depois que você voltou a respirar eu sabia que acordaria também. Eu saí do hospital, naquele dia, e fiz tudo o que você estava fazendo por nós enquanto eu estava na clínica. E todos os dias depois do trabalho eu ia te visitar no hospital. As enfermeiras já estavam acostumadas comigo e me deixavam dormir no seu quarto sem que ninguém soubesse. Mas passaram-se quatro meses e você não acordava. O diretor do hospital veio falar comigo. Ele disse que era muito caro manter você viva sem nenhuma perspectiva de melhora. Então eu disse pra ele se manter afastado de você e saí do hospital porque eu precisava manter seus aparelhos ligados de qualquer modo. Eu sabia que você iria acordar. E eu consegui. A diretora da clínica me ajudou a entrar com uma ação judicial que obrigou o hospital a manter você viva.
- Eu gosto dessa parte. - A voz dela estava tão distante. - Continua.
- Depois daquilo, então, eu passava mais tempo com você. E então, num domingo à tarde, sem nenhum aviso, você abriu os olhos e eu achei que era algum reflexo, mas você continuou com os olhos abertos, e disse meu nome.
- Eu me lembro agora, e logo o quarto estava cheio de médicos e enfermeiras.
- Sim, parecia que todo o hospital estava lá. E depois daquilo, nada mais importava pra mim além de você e toda a nossa vida que começava.

A respiração dela estava mais lenta e sem perceber, ele segurava sua mão com força.
Ela olhou pra ele novamente.
- Que bom que você não desligou os aparelhos.
- Eu nunca te abandonaria de novo.

- Eu te amo, meu bem. - Ela já não estava mais ali.

- Eu também te amo, minha querida. Nos encontraremos logo, logo.


Fim.