quarta-feira, janeiro 14

Sem título.

- É uma mulher que optou por sair da vida difícil que levava por meio do casamento. Bom, daquela vida ela saiu, mas o homem com quem havia se juntado equiparava-se a nada, ou menos do que nada, em se tratando de atenção e carinho. Ou coisas que tradicionalmente se espera de um marido.
Mas enfim, agora sua vida era-lhe um pouco melhor. E suas três maiores alegrias vieram com os três filhos. E a partir da maternidade ela passou a viver por eles, a fazer de tudo por aquelas crianças que eram tratadas como bichos pelo pai.
Ela queria sair dali. Mas como? Havia se casado pra mudar de vida, e fora daquele ambiente ela não teria condições de dar o mínimo para seus filhos. Ali pelo menos eles tinham escola, não passavam fome, viviam e eram felizes como crianças que eram. E com a mãe que tinham.
E mesmo sendo ignorada pelo marido, ela encontrava certo prazer nas coisas pequenas que a vida lhe dava: duas novas amigas, seus cachorros, a alegria dos filhos no Natal.
Ela podia cuidar de tudo. Só não podia cuidar de si.
Tudo continuaria normal se não fosse aquele exame. Leucemia? Uma coisa tão distante em filmes e novelas com finais tristes ou reviravoltas de último minuto.
Contar para suas amigas despertou a compaixão, o medo, a certeza de que o resultado do exame foi um engano.
Contar para o marido foi como falar que o dia havia amanhecido com um lindo e resplandecente sol.
Sobre aquilo ela nada poderia fazer. Simplesmente seguiria como sempre seguiu, porque seu mundo, seus filhos, suas crianças ainda precisavam dela. Ainda precisariam por um bom período de tempo.


Por coisas assim você duvida de Deus.
Por coisas assim você duvida mesmo de Deus.