sábado, maio 2

Segundos Eternos - Parte 2

Era uma manhã de domingo.
Ela fazia como sempre o mesmo caminho da Igreja de volta pra casa, sem pressa, observando as pessoas que andavam pelo parque, a luz do Sol que refletia no lago.

Naquele dia ela escolheu um lugar diferente onde pudesse ficar sozinha.
Estava sentada já a alguns minutos quando abriu os olhos e deu com ele sentado ao seu lado.

É claro, ela ainda não sabia quem ele era, mas mesmo assim sorriu de volta, respondendo o cumprimento. Ele quis conversar, enquanto ela queria ficar sozinha. Ele queria ficar, ela queria ir embora.

Ficaram os dois olhando o lago, quando ela se levantou desculpando-se rapidamente, e retomou o caminho de casa.

Ele ficou sentado. Ficou olhando o lago. Era estranho conversar com alguém desconhecido assim, sem saber exatamente o que falar. Mas agora não importava. Importava somente que havia ganhado a aposta. Naquela noite ele reproduziria o áudio entre seus amigos. Havia ganhado.


Era outro domingo e ele continuava igual ao anterior.
E lá estava ele, esperando que ela passasse.
Dessa vez não havia aposta. Dessa vez não havia microfones.
Sem saber porque ele não conseguia parar de pensar na garota do parque. A semana ia bem até que ele a viu novamente, sem querer. E daquele momento em diante ele só pensava na primeira vez que a viu.

Quando ela se recostou no banco e fechou os olhos, ele já estava a seu lado.

Dessa vez ela percebeu que havia alguém ao seu lado e abriu os olhos. Era ele.
Claro que ela se lembrava. Achou estranho que alguém viesse lhe falar subitamente, principalmente numa cidade onde as pessoas mal se cumprimentavam.

Ela sorriu e resolveu que dessa vez queria conversar.
Ele sorriu e resolveu que voltaria no domingo seguinte.


Todos os domingos eram iguais. No seguinte, e depois, e depois.
Mas agora haviam também os sábados, as sextas e todos os outros.

Ele descobriu que não queria se afastar. Descobriu que não era apenas uma aposta.
No dia do aniversário dela, ele a levou no cais antes do anoitecer e lhe deu uma única flor. Uma rosa. Tão vermelha que contrastava com a pele branca dela.

Quando ganhou a rosa, ele lhe disse algo que ela não ouviu.

Ela o beijou, sem pensar. Deixou que a rosa escorregasse de seus dedos enquanto ele a abraçava.

Os dois não pensavam em nada. Tinham medo daquele momento desaparecer.



A rosa caiu, e foi levada pelo mar.