quarta-feira, outubro 28

Sereníssima #2

Ano 1

Capítulo 2 - Ivan

Então. O nome dele é Ivan. E desde aquele desmaio bizarro na festa, eu não consegui lembrar de mais nada. Eu explico: é que eu vou lembrando de mais coisas com o tempo. Mas já faz uma semana e não consegui mais nada. Ivan. E eu perguntei pra Ana se ele continuou na festa, e ela disse que o viu rapidamente mas logo depois ele foi embora. Agora eu me pego odiando estar com isso na cabeça. Pelo menos estou conseguindo disfarçar. É claro que a Ana vai descobrir. Ela ocupa o tempo livre observando o jeito das pessoas, como eu. A diferença é que ela só consegue olhar pras partes físicas, faciais, visíveis.
Ontem eu e minha irmã fomos ao parque da cidade pra dar mais uma de nossas palestras. Isso foi idéia dela. É incrível a quantidade de pessoas nessa cidade que não têm a mínima consciência ecológica. Então a Jane resolveu tentar fazer alguma coisa com as crianças da escola dela. Agora, depois de umas três semanas, já aparecem algus adultos tímidos. Ontem, particularmente, havia umas trinta pessoas, e todas resolveram colaborar. Eu aproveitei que não conseguia tirar o tal Ivan da cabeça, pra não me desviar ainda mais com a grande quantidade de pessoas.
Deu certo. Mas a Jane percebeu. E ela sabe. Ela também é assim e ficou insistindo que eu devia procurar saber quem era a pessoa, já que a reação fora tão forte. Eu ignorei. Da última vez foi um desastre e não quero mais essas confusões pra mim.

Dois anos atrás, eu andava pela rua quando dei de cara com uma menina. Quase nos atropelamos e assim que ela olhou pra mim, eu desmaiei. A moça da loja em frente me ajudou e logo que consegui ficar de pé, surgiu aquela obsessão. Eu tinha que saber quem era ela, e porque seus pensamentos eram tão turvos. Em dois dias eu sabia tudo sobre ela. Na verdade, alguns de seus pensamentos eu podia ouvir durante a noite. E não eram nada bons. Enfim. Não quero lembrar disso de novo. Ela morreu.
Agora, imaginei meu pânico se algo acontecesse de novo. Sério. Mais um dia numa sala de terapia e eu enlouqueço. Uma menina estava perguntando algo pra Jane e eu percebi que ela estuda junto comigo. Fiquei pensando que ela devia ser mais nula que eu naquela escola, pois não conseguia lembrar de seu rosto. Mas seu nome é Julia. Já é um começo. Fomos pra casa já era fim de tarde.
Hoje, no fim das contas, o dia não foi nada bom. E agora também não está. Estou lutando contra todas as forças pra não colar as respostas da mente do professor. Sim, eu faço isso. A Ana acha que sou idiota, mas eu digo pra ela que tudo que vem fácil demais não é interessante. Ela simplesmente revira os olhos. Bem, acabou. Já estávamos saindo pelos portões quando a Ana me deu uma intensa cutucada pelas costas e eu já ia revidar quando avistei os dois, eles estavam claramente discutindo na esquina no quarteirão. Claro que a Ana queria saber quem era a menina, mas rapidamente ela me afastou na direção contrária. Com certeza ela não queria que eu desmaiasse de novo.