domingo, abril 26

Segundos Eternos - Parte 1

Ele andava perdido.
Fugir não mais adiantava e ele acabou percebendo que a única coisa que o salvaria era ela.
Mas ela se fora. Assim como tudo de bom que um dia havia existido, ela se fora.
Durante dias e dias e semanas ele procurava em si mesmo forças que o mantivessem de pé.
Aquilo era um pesadelo e logo iria acabar.

Mas o pesadelo continuava e ele não mais dormia.
E ele só pensava nos erros, na destruição do que fora perfeito.
Ele só via a culpa. E a culpa era uma sombra que sempre o perseguia, sempre o sufocava.
Nos dias que ele não conseguia respirar, então a casa se impregnava de um barulho ensurdecedoramente alto, de uma fumaça insuportavelmente espessa, de um cheiro repugnantemente acre.
Porque de um modo ou de outro, ele queria parar as vozes em sua mente, as batidas frenéticas no coração, as visões que nunca o deixavam em paz.

E foi num momento assim que ele pegou o telefone e ligou pra ela.

Pra quê, nem ele mesmo saberia dizer. Apenas o número estava lá a tempos e sobriamente ele não tinha coragem de fazer o que precisava ser feito e naquele momento tudo que ele queria era ouvir a voz que tanto lhe fazia falta.

O telefone tocava, e pra ele a espera parecia interminável. De repente ele teve medo que ela não atendesse. Que ele não soubesse o que dizer.

Ele estava entrando em pânico quando ouviu o barulho no outro lado, e em seguida, a voz que ele tanto queria escutar. Que ele tanto precisava.

Alô, ela dizia.
E ele chamou seu nome, uma única vez.
Alô, ela continuava dizendo, agora como se reconhecesse quem lhe chamava.

Mas ele não mais escutava.
Tinha caído no chão e seu coração batia assustadoramente rápido e sua respiração era ainda mais difícil do que quando ele começara com a mistura insana de todas as noites.

Então ele não mais enxergava nem ouvia o som que vinha de longe.
A voz que ele tanto queria escutar, chamando seu nome mais uma e outra e outra vez do telefone que ainda balançava.